Sou assumidamente uma devoradora de livros. Desde que aprendi a ler. Mas minha fome muda de acordo com o momento da minha vida. Por exemplo: aos 17 anos, lia pelo menos um livro por semana para me preparar para os vestibulares. Li todos os indicados daquela época, lá em 2012.
Juntou-se a fome com a vontade de comer, porque a maioria era literatura clássica brasileira. E eu amo literatura clássica brasileira. A Cartomante, do Machado de Assis; Venha Ver o Pôr-do-Sol, conto da Ligia Fagundes Teles; Olhai os Lírios do Campo, do Campo, do Érico Veríssimo. Eles são tão importantes para mim que nem sei descrever.
Depois de ter crise de ansiedade e não prestar o Enem; entrar em uma faculdade municipal e conseguir um estágio logo no segundo ano de estudos; ler se tornou um privilégio que eu não tinha acesso.
Ler por esporte, vale ressaltar. Porque ler para estudar e trabalhar, nossa, eu lia muito. Me acostumei com o fato de não ter tempo e disposição para praticar meu hobby favorito. No começo não doeu, mas depois comecei a me sentir vazia por não conseguir sequer ler um livro por ano.
Aí entrei numa fase de me forçar a ler – foi péssimo e não render nada. Tentei mudar de gêneros literários e a ler livros mais leves e bobos (sou apaixonada por eles). Propus temas, como ler só mulheres, só mulheres negras, só mulheres negras vivas. Isso me motivava e até me ajudou a ler um pouco mais. Mas não no ideal inalcançável de quando se é uma adolescente com todo o tempo do mundo.
A minha motivação, uma triste motivação, veio anos depois de um jeito muito traumático. Comecei a trabalhar em uma empresa conservadora, que me fez uma oferta atraente para eu trazer toda a minha experiência de 10 anos como jornalista para reformular a comunicação corporativa ultrapassada.
Em menos de dois meses, o que parecia um desafio gostoso se tornou um pesadelo. Tudo o que eu propunha era barrado (e nem eram ideias tão revolucionárias), as propostas que passavam só eram aprovadas porque um colega de trabalho roubava minhas ideias e as apresentava como dele. Esse mesmo colega foi me tolhendo e me passando a perna até que não tinha mais função nenhuma na firma.
Sério, nada. Eu ficava parada o dia todo esperando qualquer migalha de trabalho para fazer. Sim, eu tentei brigar, reclamar, falar com meus gestores. Não adiantou nada. O ponto é que, depois de ficar entediada com essa situação, pensei: bom, vou ler.
Agradeço à pirataria por ter sido minha amiga nesse período tortuoso. Baixava todos os livros que queria ler, os que me indicavam e os que achava aleatoriamente e passava meu expediente assim: lendo.
Meu desejo de ter tempo de ler veio dessa forma deprimente: eu lia durante 8h40 por dia esperando a hora de bater o ponto e ir embora. Os livros mais complexos, densos ou gigantes demoravam uns 10 dias para serem lidos.
Os mais curtos, rápidos e bobinhos, uns 3 dias. Tinha semanas que lia dois ou três livros. Tinha épocas que não lia nenhum porque sentia culpa. Mas, bem ou mal, em 1 ano li incríveis 21 livros.
Não levo isso como uma conquista nem como um conselho para ler mais. Porque, embora tenha lido livros que marcaram minha vida nesse ano, eu tenho memórias péssimas do meu emocional enquanto devorava aquelas páginas de PDF sonhando em sair daquele emprego logo.
Eu não estou mais nesse emprego. Enterrei tudo de ruim que passei por lá. Mas o que ficou de bom foi esse novo jeito de encarar a leitura. Ler virou um lugar de aconchego na minha vida. Quando não estou bem, quando a ansiedade bate ou quando preciso descansar, eu leio.
Hoje, trazendo uma nova temática para me incentivar a ler, passei a guardar o valioso vazio do fim de tarde de domingo para ler sem pressa nem pressão. Intercalo entre um livro de estudos (geralmente de culinária) e um de romance, suspense ou ficção. Quando não dá pra ler eu não leio. Quando não termino um livro dentro de um mês, tá tudo bem.
O importante é que a leitura salvou minha vida naquele ano e foi e sempre será minha companhia em todas as etapas da minha vida. Para matar sua curiosidade, vou colocar aqui a lista de livros que li mês a mês naquele ano:
JANEIRO
Tudo Sobre Amor - Bell Hooks
O Maravilhoso Bistrô Francês - Nina George
FEVEREIRO
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MARÇO
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ABRIL
Belo Desastre - Jamie McGuire
Procura-se Um Marido - Carina Rissi
Os Sete Maridos de Evelyn Hugo - Taylor Jenkins Reid
MAIO
Hibisco Roxo - Chimamanda Ngozi Adichie
JUNHO
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JULHO
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AGOSTO
A Paciente Silenciosa - Alex Michaelides
O Homem de Giz - C. J Tudor
Os Testamentos - Margaret Atwood
SETEMBRO
A Seleção - Kiera Cass
A Elite - Kiera Cass
A Escolha - Kiera Cass
OUTUBRO
Amor em Tempos do Cólera - Gabriel García Marquez
Tudo é Rio - Carla Madeira
NOVEMBRO
O Morro dos Ventos Uivantes - Emile Bronte
Ex/Mulher - Tess Stimson
Daisy Jones & The Six - Taylor Jenkins Reid
DEZEMBRO
A Natureza da Mordida - Carla Madeira
Homens Pretos Não Choram - Stefano Volp
Todas as Sextas - Paola Carosella
Ricardo e Vânia - Chico Felitti